tag:blogger.com,1999:blog-75518996768456648562024-03-05T02:20:35.975-08:00incendiando a babilônia.e todos seus míseros jardins.L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.comBlogger16125tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-13875805568965052802010-01-12T01:40:00.001-08:002010-01-12T01:44:39.271-08:00mudei.retalhos-de-delirio.blogspot.com<br /><br />tentei mudar o e-mail, mas sendo o principal do gmail, não deu. o jeito é pedir para que mudem comigo. ok?<br />um beijo.L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-44829871824584506102009-09-08T01:32:00.002-07:002009-09-08T01:37:24.076-07:00cacos de alice<span style="font-family:trebuchet ms;">um pequeno flash-back:<br /><em><span style="font-family:trebuchet ms;">eram duas crianças. um garoto com seis anos, uma garota com quatro. ela puxava com força uma corda que corria sobre um rolamento preso ao teto, ele pendia com a mesma ao redor do pescoço. seu corpo sacudia-se em convulsões inconscientes, o rosto roxo-azulado, urina pingando dos sapatos pretos até o chão. alice-criança sorria entre fios suados de cabelos negros que iam até abaixo dos ombros.</span></em> </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />“ele tinha cabelos louros como os teus.” – alice tragou o cigarro e olhou para stella. – “depois disso, meus pais foram internados. mataram-se alguns dias depois, ambos da mesma forma: enforcaram-se com os fios do telefone.”<br />stella tinha nas mãos a magnum.44, e girava o tambor distraidamente. os olhos fixos nos da outra. bebeu café, passou a ponta da língua pela borda da xícara, limpando o visco fino que ameaçava escorrer, escuro. num sussurro quase inaudível, disse: “teus segredos são agora meus.” não haviam lágrimas ou drama, só essa cumplicidade crua que se tem quando duas pessoas sentem o que elas. esse mais-que-amor que nunca outro alguém poderia entender, que nunca houve antes noutras histórias.<br />um estrondo curto e seco irrompeu pela fresta da janela e a luz fraca do abajur apagou. lá fora chovia torrencialmente. ficaram então as duas na completa escuridão, os olhos de uma encarando os olhos da outra, ainda que não se pudessem ver. deram-se alguns momentos até que acostumassem-se ao breu. stella acompanhava o ponto vermelho da brasa do cigarro de alice descendo e subindo lentamente, crescendo quando tragado, depois pequeno outra vez, parado sob o braço da poltrona. não via sequer o vulto, mas sabia que alice embalava o copo no ar, em círculos, dissolvendo sem perceber a vodca no café. ou o inverso. “três-quartos-de-vodca-para-um-de-café” ela sempre dizia.<br />alice observava sem poder enxergar os dedos de stella puxarem a pele dos lábios. arranhava, machucava, estuporava a boca até que sangrasse, e então sugava o líquido vermelho.<br />-qual era o nome?<br />-de quem?<br />-do teu irmão.<br />-ian.<br />stella andou até a poltrona vermelho-sangue no outro lado do cômodo, tocou os joelhos de alice com as pontas dos dedos e sentou em seu colo, acomodando levemente a cabeça em seu ombro. alice tirou do bolso uma cartela de comprimidos, entregou metade à stella (que pegou o copo da sua mão e engoliu-os num grande gole) e enfiou os outros na boca, mastigando devagar. os braços finos entrelaçaram a cintura da outra, e juntas entraram num jogo de cores e sensações. deliraram então, num silêncio pesado, até que adormecessem quando o sol rasgava o céu numa manhã de setembro.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-15349379928837707332009-07-25T19:53:00.000-07:002009-07-25T20:03:38.677-07:00gotas de caio<span style="font-family:trebuchet ms;"><em>"não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir ,que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem"</em></span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">Caio Fernando Abreu - "Garopaba, Mon Amour" de <strong>Pedras de Calcutá</strong>.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">ah, que fosse meu pra uma certa alice que vaga pelos becos, pelos canos, pelos anos.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-60375756856672169512009-07-02T19:28:00.000-07:002009-07-02T19:59:07.722-07:00carta número cinco<span style="font-family:trebuchet ms;">alice, <span style="font-size:85%;"><em>tão minha</em></span></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">já te descrevi em cacos, te devorei em pedaços e te li em conta-gotas. agora, minha alice, tudo que sei é que te tornei um punhado de grãos microscópicos escorrendo entre meus dedos. onde foi parar toda aquela carne sólida que eu podia controlar, onde eu cravava as unhas e afundava os dentes, de quem eu segurava os pulsos a cada elevação no tom de voz? </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">tu sequer me olha pra tentar respostas que (eu sei) não tem. perdeste o medo de não saber. tanto eu quis que tuas asas crescessem, que, quando dei por mim, minhas paredes não mais comportavam tal grandeza. mais um quarto de hora e então tu vais embora. há mais de um ano, quando me sentei pela primeira vez nesse sofá puído e rasgado, eu sabia que um dia tu sairia porta afora. no início eu mesma saía. era a primeira a me incitar à maçaneta. depois fui ficando, me acomodando, moldando a almofada ao meu corpo. tu sequer fazia menção de descruzar as pernas ou apagar o cigarro, e ainda assim eu pus vinte-e-três-trancas-com-cinco-voltas cada. </span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">vez ou outra fomos até a sacada. não ao mesmo tempo. não para assistir crescer os morangos que plantamos. não, meu amor. os morangos mofaram, endureceram, quebraram. fomos sorrateiras. primeiro eu, enquanto tu servia uma dose de vodca noutro canto do quarto, depois tu, enquanto eu me deixava engolir pelo céu. </span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">só mais cinco minutos, eu sei <em>mon amour</em>, tenho o tempo na cabeça pois o relógio que eu te dei quebrou essa tarde. agora fica um tictictic enlouquecedor ainda que os ponteiros não mudem de lugar. </span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">[...]</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">são dois-pra-hora e lambi com a ponta da língua o dedo indicador. sem pressa resgato grão por grão e os coloco devagar sobre teu lugar, nessa poltrona vermelho-sangue mais distante da janela, nesse canto em que o sol não alcança, onde te absorve os olhos e te enegrece as estrelas, nesse quarto tão mas tão nosso, que eu não poderia permitir que o deixasse de ser. por favor não se esvaia entre meus dedos outra vez mais. </span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">levei as chaves por garantia, as das janelas também. há vodca e cigarros sobre a mesa, por favor, me perdoe. volto em um quarto de hora.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"><em>tictictictic...</em></span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-21377519933711957632009-05-03T17:01:00.000-07:002009-05-03T17:29:31.329-07:00um coma de amor<span style="font-family:verdana;">um livro abandonado sobre o banco de concreto. a capa era de um papel preto que imitava camurça; passando os dedos dava pra sentir micro pedacinhos se soltando. 23 páginas. todas em branco exceto por uma única linha na contra-capa: <em>agora tu és minha, mas eu preciso partir.</em><br /><br />sentei no banco e coloquei-o no colo. fiquei esperando não-sei-o-quê. traguei três ou cinco cigarros e ninguém apareceu, nem nada aconteceu. caminhei as exatas quatorze-quadras-e-meia, empurrei o portão de metal, ouvi o 'CLAC' do trinque fechar, subi as escadas pulando os degraus aos pares contando "três. cinco sete nove onze cinqüenta-e-três". quando finalmente entrei, estava cansada, suada, e cheia de um pozinho preto espalhado pela blusa. nem percebi que durante todo o percurso eu agarrara o livro contra o peito. coloquei-o sobre a mesa ao lado da janela. enquanto tomava banho, ele não me saía da cabeça. quem teria escrito? pra quem? quando? por quê não havia história e sim um final? o que teria acontecido pra tê-lo abandonado? eu não tinha nenhuma resposta. preparei um belo copo de vodca, acendi um cigarro, engoli alguns comprimidos brancos e me sentei em frente à mesa. escrevi na primeira página:<br /><br /><em>Astrid L.<br />Rua dos Ipirangas 3005 / 203 – Cidade Velha</em><br /><br />deitei no chão do quarto empoeirado – precisava de uma bela faxina, eu sabia, só não tinha saco pra isso, que tempo eu tinha e de sobra – e assisti o céu mudar de cor, escurecer. daí em diante nada do que eu vi pode ser descrito como realidade. as alucinações me embalaram até que eu dormisse e tivesse sonhos na velocidade da luz, com cores que ninguém nunca viu.<br />acordei por volta de três da tarde do dia seguinte com solavancos na porta. achei que ia voar apartamento adentro, aquela merda. eu digo apartamento é pra ficar bonito, porque não passava de um cômodo com um fogão de duas bocas, uma mesa velha e um colchão. abri:<br /><em>-escuta aqui, ô, drogadinha. tu não vai me pagar não, é? já passa de dois meses com as contas atrasadas, vou te pôr pra fora, tô falando.<br />-dá um tempo dona zica, que a coisa não ta fácil pra ninguém. vou dar um jeito de pagar a senhora, prometo.</em><br />-<em>promete, promete. de boas intenções o mundo tá cheio.</em> – ela saiu murmurando pelo corredor palavras ininteligíveis, provavelmente ofendendo meu caráter, que, a essa altura, já não valia mais que o muquifo onde eu tinha vindo parar.<br />meti uma calça, peguei a mochila com tudo que eu tinha e saí porta afora. lugar que nem aquele não dá pra deixar nada dando sopa, não – ainda que <em>tudo que eu tinha </em>não valesse nada. dois minutos depois voltei correndo e peguei o livro que tinha esquecido ainda sobre a mesa. fui até a praça onde o havia encontrado e deixei-o exatamente no mesmo lugar. sentei num banco distante – mas de onde tinha a visão perfeita – esperando o dono. esperei um bom tempo, mas ninguém veio. já começava a escurecer quando desisti. fui pra avenida sem vontade nenhuma, mas há dias em que não restavam opções melhores. tenho cara de adolescente na puberdade, então não demorou meia hora para que um carro parasse:<br />-tá quanto?<br />-cem.<br />-sobe aí, puta. – entrei no carro e pude ver o rosto. era um desses caras que saem em colunas sociais de jornal da região, sabe? tinha dinheiro, família, coisa e tal. pelo estilo nem achei que fôssemos pra um motel tão vagabundo. o filho-da-puta me comeu, me bateu, me xingou e não queria pagar! falei que ia no jornal, que dizia que ele tinha me molestado, e ele riu.<br />-molestar? e desde quando puta de esquina sabe o que é isso? olha como fala comigo. tu nem vale cem.<br />-me dá minhas cem pratas. – não tenho medo de otário não, nunca tive, além do mais, pior do que eu to, não fico.<br />lembrei de onde o conhecia. era deputado. eu já podia ver as manchetes: <em><strong><span style="font-family:trebuchet ms;">"deputado molesta menor de idade e é preso, garota de programa recebe auxílio financeiro".</span></strong></em> não nasci ontem, mesmo que eu tenha fantasiado, eu sabia que não era assim. manda quem pode e obedece quem tem juízo. eu não tenho. o cara reclamou, humilhou e riu, mas no fim das contas não queria escândalo à toa – sabe como é, época de eleição – e acabou me dando as cem pratas. filho-da-puta é filho-da-puta né. sem a ironia do trocadilho.<br />eram quase dez da noite. saí sozinha do motel, o cara deixou a conta paga e eu fiquei lá, me lavando e tentando dar um jeito nos machucados. <em>"pra primeira vez, até que não fui mal"</em> pensei comigo.<br />passei na "praça do livro" antes de ir pra casa. ele ainda tava lá, mas alguém tinha mexido. não continuava no mesmo banco. peguei de volta, e só abri quando tranquei a porta e sentei à mesa da janela. tinha um envelope com meu nome escrito e dinheiro dentro. não contei, mas pelo que eu percebi era o suficiente pra pagar dona zica. embaixo do meu nome e endereço tava escrito:<br /><br /><em>não preciso que me dê endereços, astrid. sei onde moras, o que fazes e só me falta descobrir de que gostas – além dos livros que roubas por aí. te conheço de outras vidas, e tu pode ser minha se quiseres. mas tu ainda não quer. eu te espero, te espero há tanto tempo.<br />p.s.: não se ofenda com o envelope, só te peço que não te humilhe dessa forma como fez hoje outra vez.</em><br /><br />entrei em pânico. então tinha alguém que sabia que eu existia? estivera me seguindo? me esperava pra quê? quem é esse autor que só me dá perguntas sem respostas? era uma letra tão bonita, tão bem-feita... e o modo de escrever? tão educado... senti vontade e me esforcei pra relembrar a gramática que eu soubera tão bem em tempos de colégio. abaixo dele:<br /><br /><em>como é que é? tu me segues, então? e não, não quero ser de ninguém, que não fui feita pra andar laçada. gosto da liberdade, nunca serei tua nem de qualquer outro.<br />de outras vidas? acaso és louco ou o quê?<br />p.s.: sei me virar sozinha.</em><br /><br />coloquei o envelope de volta e deixei o livro na praça ainda naquela noite. peguei de volta só uns três dias mais tarde. não havia quase nada escrito, apenas uma folha de plátano colada na segunda página, com os míseros:<br /><br /><em>19/05 – tu estavas mais linda ainda hoje, deitada sob a imensidão de plátanos tristes, como nós.</em><br /><br />nas semanas seguintes, nos escrevíamos quase todos os dias. eu esperava ansiosa por respostas que nunca eram às perguntas que eu havia feito, e sim, eu sabia, sobre algo bem maior do que o que eu poderia ver. por diversas vezes tentei marcar encontros pessoais, mas ele nunca falava sobre isso. graças à ele eu conseguira um bom emprego numa locadora que ficava no mesmo prédio da minha biblioteca preferida. às vezes ele roubava livros pra mim e os deixava no banco, à minha espera. eu não tinha mais dívidas e havia me mudado para o prédio em frente ao antigo. há quase três semanas não usava nada, nada. tudo parecia estar indo bem, talvez não fôssemos mais tão tristes.<br /><br /><em>13/07 – é inverno, astrid. estamos na vigésima primeira página, é hora de eu te beijar. meu café é amargo – só sete gotas de adoçante – não muito quente. levarei cigarros, meu amor.<br /></em>havia uma marca de café propositalmente derrubado na página.<br /><br />estatizei. ele finalmente queria me encontrar. sem perceber que eu estava me afogando, respondi:<br /><br /><em>sem teu rosto ou tua voz, me fizeste apaixonar por ti no mais íntimo de teus seres. és em mim toda a poesia antes esquecida. te espero ao pôr-do-sol, tu bem sabes onde. todo o meu amor, um beijo em teus olhos.<br />p.s.: surpreenda-me.<br />deixei a chave da porta entre as páginas já escritas.</em><br /><br />dormi muito mal nessa noite, tamanha ansiedade. o sol rasgava o céu sem pudor e iluminava o quarto aos poucos, inundando o cômodo. tudo continuava uma bagunça e eu tentei melhorar a aparência, mas de nada adiantaria, porque, ele sabia. de tudo, ele sabia. não consegui comer, cada minuto era um martírio à espera dele. sentei no parapeito da sacada com as pernas soltas no ar e acendi um cigarro. o sol começava a se pôr. ele não viria.<br />"clic" a porta sendo aberta. hesitei, não ousei olhar pra trás. ele me abraçou pela cintura e segurou bem forte, tão forte que eu tive a certeza que nunca, de maneira nenhuma eu cairia se suspensa por aquelas mãos. fechei os olhos e as toquei. eram macias, os dedos eram finos, os pulsos eram frágeis e cada pêlo do braço estava ouriçado. eu podia sentir nas pontas dos meus dedos. desci do parapeito e fiquei frente à frente com aquele estranho que agora era tão meu. ele passou as mãos pelo meu rosto e pude senti-lo sorrir.<br />abri os olhos e vi os olhos do meu amor, devorando os meus. clarice estava mais linda que nunca àquele pôr-do-sol. ela tinha o olhar mais lindo que eu já pudera presenciar. eram olhos de mil anos, tão tristes. por si só poderiam iluminar toda uma cidade, tamanho brilho. uma constelação engavetada. deciframo-nos centímetro por centímetro, minhas mãos decodificando o corpo dela, os olhos dela devorando minha alma. sua boca tinha quase o formato perfeito de um coração que se desfazia em sorrisos pequenos, e era de uma textura indescritível. senti cada pedacinho de pele dela na minha, senti cada gota do amor de clarice inundando meu corpo, me transbordando. e transbordei nela também. nunca antes houvera amor como o nosso. passamos a noite inteira juntas, abraçadas, nuas iluminadas apenas pelo luar que rasgava entre os vãos da janela. eu ainda não pudera ouvir sua voz, então ousei:<br /><em>-eu te amo, meu amor.</em> – ela permaneceu calada, e me deu o melhor beijo que eu pudera receber. tentei outra vez. – <em>me diz teu nome?<br /></em>clarice levantou e se vestiu, beijou meus olhos e foi embora.<br />fiquei sozinha no escuro, tentando saber se tinha sido real – ou não. acabei adormecendo e sonhando com clarice e suas constelações. voltei à praça, ao livro:<br /><br /><em>o que estás fazendo comigo? não me amas mais? teu amor acabou? foi só um conto, ou um sonho? sequer sei o teu nome. não me deixes, amor, por favor.</em><br /><br />foi esse o final de uma longa carta que escrevi à ela, ocupando toda a vigésima segunda página. busquei a resposta no final da tarde:<br /><br /><em>vigésima terceira página, astrid. nunca existirá amor como o nosso. serei sempre tua. não tenha medo, te amei em todas as vidas, te amarei para todo o sempre.</em> – um pequeno espaço em branco, e, (eu havia esquecido!) –<em> agora tu és minha, mas eu tenho que partir.</em><br /><br />encerrando a contra-capa, estava escrito: <em>por astrid L. e clarice B.</em><br /><br />depois disso, tudo que lembro é de acordar amarrada por fivelas todos os dias e todas as noites aos prantos, gritando por clarice. ano passado disseram que eu poderia viver bem sem causar danos à sociedade, então me deram alta. me entregaram apenas uma muda de roupa e uma mochila desgastada – segundo eles, era o que eu tinha quando fui internada – que dentro continha uma única coisa: um livro. a capa era de um papel preto que imitava camurça, com letras garrafais vermelhas entitulando: <em>"<span style="font-family:courier new;">UM COMA DE AMOR".</span></em></span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-272762317120253972009-04-27T18:21:00.000-07:002009-04-27T18:27:20.461-07:00mais uma história de amor<span style="font-family:trebuchet ms;">eram cerca de onze da noite, e nada havia sido como eu fantasiara. na mochila eu não tinha mentiras pra contar, e não usava um jeans rasgado. pelo caminho não haviam garrafas nem cigarros (só uns poucos sobrados das noites anteriores). não. entre a carne e o tecido eu sentia minha pele angustiando em hematomas recém feitos, e não carregava comigo mais que uma blusa extra e chamadas intercaladas por trinta minutos. meus dedos tocavam gentilmente a corrente do balanço onde agora eu voava. fitei o teto preto e carregado de estrelas. como te queria aqui agora, alice. como te queria comigo, no céu. te quero tanto, mas tanto, que...<br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">de um salto rompi meu vôo e me atirei ao chão de areia. não havia tempo a perder, eu não tinha nada e vivia tudo. acendi um dos poucos cigarros que me restavam e segui os paralelepípedos até o asfalto. pouco mais de uma hora andando e finalmente cheguei ao trevo da cidade. ah, a cidade. como é bom te abandonar sem medo.<br />os faróis me banhavam em luz me cegando por segundos, me ignorando. depois de quarenta ou cinqüenta minutos, um caminhão parou. corri e parei em frente à janela lateral, sorrindo. o motorista abriu a porta e me estendeu a mão. entrei. ele tinha mãos ásperas e um sorriso que de tão simples mais me parecia um pobre-coitado. como eu. eu esperava de motoristas de caminhão que dão caronas de madrugada: <em>a)violência; b)estupro; c)eu jogada na estrada;</em> mas não. ele ia pra cidade vizinha de onde eu pretendia chegar, e em pouco tempo de conversa me senti à vontade pra dormir um pouco. quando acordei os <em>outdoors </em>já me violentavam os olhos: chegamos.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">[...]<br />liguei uma, duas, três vezes. o morse: ela me liga.<br />-<em>onde tu tá? fiquei preocupada, tu não me ligou! tudo bem? </em></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">eu contenho risos abafados e não respondo.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">-<em>stella! stella! tá aí?<br />-vai pra sacada e olha que lindo ta o céu hoje</em>. – ela responde com um suspiro. ouço o ranger de portas do outro lado da linha, acima da minha cabeça.<br />-<em>sim, tá lindo mesmo.</em></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><em>-não mente, tu sequer saiu pra fora</em>. – ela ri.<br /><em>– tu me conheces tão bem</em>.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><em>-sim, e faço tudo por ti.</em> – ela está debruçada nas grades de ferro me olhando a dois metros abaixo. eu faço sinal de silêncio e subo pelo muro do vizinho até a sacada. alice não tem mais medo, alice me ama e também faz tudo por mim.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">-<em>nós vamos fugir?</em> – ela me beija e nossos corpos (o meu frio, o dela quente) se enlaçam.<br /><em>-sim, meu amor. nós vamos fugir.</em> </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">lá estava eu de volta ao asfalto, eram quase quatro da manhã. alice tentava se manter acordada na beira da estrada fumando cigarros que pendiam leves de seus dedos quando ela cochilava, relapsa. eu olhava e sorria. nunca antes havíamos sido mais felizes.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-76190637125209590492009-03-16T10:22:00.000-07:002009-03-16T11:13:18.185-07:00peeping tom<div><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:85%;">para se ler ouvindo: frosti – björk.<br /></span><br />eu tinha nas mãos o encarte de um dos discos da banda preferida dela. uma só foto dobrada ao meio eram capa&contra-capa. o fundo preto e uma estrutura metálica em destaque. prata ou dourada talvez branca ou da cor para a qual ainda não fiz um nome. não tenho certeza. encarei por alguns segundos querendo saber o que era sem a pretensão de perguntar – ela ia dizer sem que eu o fizesse.<br />-<em>é uma caixinha de música.</em> – como eu previ, ela se entrega. – <em>por dentro, sabe?</em><br />-<em>não. nunca tive uma</em>.- soaria pateticamente dramático se fossem outros ouvidos que não os dela, mas eram e não me detive em (me) explicar.<br />-<em>é o que a faz funcionar. na verdade é bem pequeno, assim ó.</em> – e mostrou com os dedos um protótipo imaginário que caberia na palma da minha mão. – <em>esse rolinho fica girando, os pontinhos escuros são em alto-relevo. as fitinhas de metal fazem as notas, e quando os pontinhos passam, elas levantam, batem e aí faz soar o som.<br /></em>continuei olhando a foto enquanto a voz dela se derretia nos meus ouvidos, derramando-se em mim. ela apontava os detalhes sem alcançar o papel, mais que debruçada nas laterais da cama. mantive minha atenção acorrentada a tudo que ela dizia, mas já não tenho certeza se foi bem isso. me flagrei absorta nas fitinhas de metal que batiam dentro dela, soando notas que banhavam meus olhos. sim, os olhos. e os senti muito, muito quentes. te injeto em mim ao som de uma pequena caixinha de música, meu amor, mas a velocidade com que tu corre por minhas veias é digna da nona sinfonia de beethoven.</span></div><br /><div></div> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGkxzEuYQYzJjPc4RV2yzqRuSP-ZgjE71iy43_fnpeVF9sa81qgb9Ty_YzCUiqIttNNykHVRxSyuXS4ooqktsJmCMQmVpTnzjzcenumbK6zWcfe3XKT_AxsIHVqiPa6aNlz6UtLJ3yAz8/s1600-h/Caixa_de_Musica_-_Artesanato.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5313847300831368370" style="WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 134px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGkxzEuYQYzJjPc4RV2yzqRuSP-ZgjE71iy43_fnpeVF9sa81qgb9Ty_YzCUiqIttNNykHVRxSyuXS4ooqktsJmCMQmVpTnzjzcenumbK6zWcfe3XKT_AxsIHVqiPa6aNlz6UtLJ3yAz8/s200/Caixa_de_Musica_-_Artesanato.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT3kbTJpYVreMuncqN5lzXP_wfld00Elm4gERwqbMCHIDDWixVcPeZ3p2Aq0_-JX2S6nZRPp6hpUpFgvDXp3uwXiHDbjYBaMlNxR8Y5zSBh40fGvzpydqeIAEpD62MJ_DNVZEMUhFKcac/s1600-h/600px-Black_market_music.jpg"></a></div>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-56603142981434788292009-03-10T08:33:00.000-07:002009-03-10T08:41:10.498-07:00she's lost control.<strong></strong><span style="font-family:verdana;"><em>pra se ler ouvindo joy division.</em> </span><br /><span style="font-family:verdana;"><br /><strong>o antes:</strong> havia cortes mal e porcamente cicatrizados contornando e preenchendo o ante-braço numa perfeita e sincronizada simetria. se um dia orgulhara-se de carregá-los como troféus de demônios encarcerados, agora temia cada um deles, todos arrebentando as portas de suas jaulas – ora em coices e pontapés, ora arremessando o corpo todo contra as paredes. stella tornara-se o palco da própria ira.<br /><br /><strong>o durante:</strong><br />"alice,<br />escrevo a fim de me desculpar. já falamos sobre quão superficiais são as desculpas; já falamos sobre não o serem quando há sentido e faz-se valer do mesmo; já falamos que na maioria das vezes não têm propósito e prometemo-nos abstê-las; mas, ainda que não valham de nada agora – como em tantas outras – eu te peço desculpas. as mais sinceras que já me puderam sair da boca – agora da ponta da caneta.<br />entre a falsa modéstia de te dizer que tudo ficará bem e que um dia tu acharás outra que te ame tanto quanto eu amo e a presunção de afirmar o caos que se segue com a mais crua verdade de que nunca qualquer outro alguém poderá sequer tentar dar-te amor tal grande o meu, fico com a segunda opção. sei o quanto essa carta e os fatos que a acompanharão irão te dilacerar, e é por eles que me desculpo. por ter o teor de egoísmo concentrado demais, meu amor. aliás, seja lá egoísmo, covardia ou fracasso em excesso – talvez os três e mais – é por eles que me desculpo.<br />não tenho a pretensão de machucar-te ainda que sabendo ser inevitável. nessas linhas te mato um pouco a cada palavra, e admito, sequer pra isso fechei os olhos. como sempre, mantive-os bem abertos. tão abertos que não suportei o que tenho visto. usando das palavras que um dia tu me destes, ‘lavo meus olhos com clorofórmio’, todos os dias, meu amor, e as mãos que me afogam não são minhas – tampouco tuas, não te desespera.<br />a bem da verdade não tenho argumentos que o valham salvo que não suporto mais. não espero que me entenda – mesmo sabendo que o vai – ou que perdoe.<br />é minha deixa para o último suspiro, meu coração. obrigada por me ter apresentado o mundo fora das coxias, foi o melhor espetáculo que poderíamos ter vivido. te amo, e, como prometido, vou te amar sempre.<br />beijos incandescentes pra esse inverno,<br />stella – sempre tua.”<br /><br />examinava o canivete vermelho-vivo entre os dedos finos. deixou de lado a dramatização literária que sempre a deixava abater e navalhou os braços sem pôr chamadas em espera. dos pulsos até a metade dos ante-braços, seguindo a linha azul que berrava através da pele. achava engraçado que depois de tantos rasgos em tantos anos no mesmo sentido, os últimos fossem exatamente os que fugiam do padrão. foi aí que a pele vomitou. vermelho. vermelho-vivo. entre papéis, trilhos e cigarros, stella saíra de cena.<br /><br /><strong>o depois:</strong><br /><span style="font-family:courier new;"><em>"...entrevista inédita com alice d. hoje, às 20:00. não perca! escritora fala do novo best-seller que encabeça a lista de mais vendidos há dezoito meses ininterruptos e revela o segredo de seu sucesso..."</em></span><br />-segredo do sucesso, é? – ironizou aquela com cabelos azuis desregrados.<br />-ah, sabe como é, dê uma frase qualquer à toda essa gente ignorante e logo transformam na sensação do momento. um circo sensacionalista, é isso que é, no qual EU sou a atração. pessoas são mesmo só pessoas.<br />-tu achas que a stella tem visto o que tem acontecido contigo? não tem como não saber, a imprensa toda tá a teus pés.<br />-e como eu saberia? da noite para o dia ela desapareceu! sequer escreveu dando explicações – não que eu precisasse – ou telefonou ou... tu sabes a história, e já chega desse assunto.<br />-tu não achas estranho que ela não a tenha procurado? afinal de contas, é a história de vocês, e, bem, milhões de pessoas têm lido. às vezes penso que talvez ten...<br />-já disse que chega desse assunto.<br /><br /><span style="font-size:85%;">enquanto isso, o corpo de stella apodrece numa certa estação de trem abandonada.</span></span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-732714438236223892009-02-11T06:48:00.000-08:002009-02-11T06:52:27.233-08:00sob seus pés o céu também rachou<span style="font-family:verdana;">há alguns meses atrás, enquanto eu lamuriava a falta tua, tu me destes uma estrela do céu. me dissestes 'olhe para o céu e procure a estrela mais brilhante. vês? pois é um presente meu pra ti'. e assim eu me sentia mais perto, sempre que o via com tantas gotículas brilhantes ao redor da nossa, fervendo lá em cima, ameaçando desabar a qualquer segundo. não suficiente, ontem mais uma vez tu me destes estrelas. dessa vez uma constelação inteira, as quais eu pude tocar com as mãos nas tuas. uma constelação que agitava-se sob nossos pés, mudando de lugar quase sem o acompanhar dos nossos olhos. fiquei eufórica, meu amor, eu extasiava por dentro e me alagava inteira. meu coração tinha explodido.<br />creio que tu querias me devastar em felicidade, pois como se não bastasse, tu me destes a lua no estado mais lindo que eu já pudera ter visto. te retribuí com meus mascotes que alimento lá dentro desde muito pequena. tudo que sempre quiséramos dividir com alguém que o merecesse, pequena, e agora o temos. tu me tens, eu te tenho. e até o que nem pensávamos que pudéssemos ter, nos demos: o campo dos sonhos estourando, não cabendo em si por toda aquela multidão que éramos nós duas, a escuridão, as estrelas de cima, as estrelas debaixo, os mascotes, a lua obesa que se agarrava ao céu, e o nosso amor. o nosso amor, que ocupava cada centímetro quadrado. as pessoas ficavam cada vez mais distantes, a anos-luz da nossa bolha que crescia e crescia e espremia-os lá fora. nós nos roubamos mutuamente do mundo.<br />nunca antes eu ousara abusar de todos os sentidos ao mesmo tempo. nunca antes eu vira/sentira tudo tão bonito. nunca antes eu fora tão feliz, <em>meu amor</em>. tu me destes coisas as quais eu não esquecerei, te prometo. foram as melhores horas que poderíamos ter tido, e tivemos. não suficientes, já que nos confessamos em sussurros suficiente ser nada menos que a vida inteira, mas eu te garanto que as mais incríveis que se fizeram possíveis.<br />queria poder guardar tudo que senti contigo num vidro, <em>mon core</em>, mas não posso. o que posso é guardá-las cuidadosamente na minha melhor gaveta. aquela que te falei que eu mesma fiz, lembra? com papel e madeira e memórias – só nossas.<br />por mais que eu escreva e escreva e fale e sussurre e grite, não me caberão em palavras o quanto te amo ou quão feliz tu me faz. não, <em>querida</em>, não briguei com elas mais uma vez, é só que, como já te disse, essas coisas tão tão grandes que tu me faz sentir não cabem em coisinhas tão tão pequenininhas que elas são.<br />ainda assim, insisto em dizer que te amo, <em>meu grande amor</em>. mais que qualquer coisa, mais que todas as coisas, mais do que 'amor' possa significar. tu estoura meu peito em dosagens desmedidas do teu amor, me afogando no melhor que eu poderia sentir.</span><br /><span style="font-family:verdana;">te juro amor eterno, <em>minha bruna</em>. amor eterno.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-65684251838779968322009-02-07T11:23:00.000-08:002009-02-07T11:26:28.672-08:00gavetas entreabertas<span style="font-family:verdana;">tenho em mim uma grande, pesada e líquida bigorna. um peso devastador – hora insuportável, hora fraco, porém constante – que corre por minhas veias, que encharca meus ossos, que me embrulha o estômago. é denso, viscoso e cru, ainda que flamejante. um ardor que embebo e álcool e sufoco em nicotina, inutilmente.<br />não lembro por onde andei nos anos que antecederam o dia de hoje. há algumas horas abri os olhos pela primeira vez. fiquei cega durante incontáveis e angustiantes minutos. não há nada ao redor se não areia. não há ninguém além de mim. não tenho medo. não ainda. não tenho tempo. logo, eles chegam. devem ser três ou cinco; talvez cinqüenta ou cem. são mais altos que eu, mais fortes que eu, mais cruéis que eu. eles não têm cor ou sexo. gritam todos ao mesmo tempo palavras que não me fazem sentido algum. dizem-me que tenho um nome e muitos pecados pelos quais pagar. atam cordas nos meus pulsos e tornozelos. um por vez, me socam e molestam, depois, todos juntos. não grito. uma ou duas vezes, desmaio tamanha dor sinto. então, quando acordo, lá estão eles outra vez, esperando que eu me faça consciente e possa sofrer um pouco mais.<br />espero que parem, mantenho-me passiva com uma lembrança que não sei de onde vem ou por que a guardo. é um rosto nítido num corpo um tanto quanto desfocado. são olhos pequenos-estreitos que parecem ter estrelas – talvez uma constelação inteira – engavetados. a boca parece ser de uma maciez sem mensuras e a voz dela é tão sutil que me embriaga em arrepios, ainda que só me dê uma única frase: <em>"eu vou te tirar daqui, Stella".</em> <em><strong>Stella</strong></em>. pois então esse é meu nome. não entendo então o que faz com que esses que me violentam vomitem <em>"Astrid"</em> em grunhidos vulgares.<br />na terceira vez em que acordo dos desmaios já não há ninguém mais uma vez e começo a considerar a hipótese de um longo delírio. olho ao redor e não há sequer um grão de areia. o que vejo são tábuas de madeira no chão; uma mesa que parece ser do século passado, tal qual os demais – que são poucos – móveis do cômodo; e uma máquina de escrever sem pó sobre as teclas. há também uma cama com detalhes entalhados, e, eu teria me prendido a eles, não fosse a presença dela agarrando meu olhar. ela, a lembrança que me fez suportar, agora sentada em meio a lençóis revirados, me observando incógnita, ali, deitada na madeira fria. reconheci a voz que manteve-me viva não mais naquela única frase, e sim num doce <em>"meu amor, outro pesadelo? volte pra cama agora. tudo está bem".</em><br />ouço as palavras saírem sem que as saiba dizer: <em>"desculpe, querida. sim, outro pesadelo".</em> deito ao lado dela e aconchego-me em abraços que me enlaçam. um lugar que sinto tão meu, tão, tão meu.<br />- eu te amo, Stella.<br />-eu te amo, Alice.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-84867400042544793672009-02-07T10:08:00.000-08:002009-02-07T10:15:47.421-08:00primeiro bilhete de linhas rasgadas<em><span style="font-family:trebuchet ms;">alice, meu amor,</span></em><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">estou mudando. não, não, não vou sair da cidade ou coisa que o valha. que dizer, bem, talvez eu saia, mas não mudar de casa, talvez eu só queira mudar de ares. tá me entendendo? eu sei que sim, me desculpe. desculpe o tempo sem escrever, têm acontecido inúmeras coisas. contarei tudo quando puder enumerá-las sem encher os olhos de lágrimas em grossas gotas de saudades. não me esqueça, tá bem? prometo não enlouquecer ou me tornar um monstro. ou melhor, não um monstro pior do que esse que tu ama.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">me espera.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">te amarei para todo o resto da eternidade. nunca amarei outro alguém.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"><em>sempre tua, stella.</em></span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-18024167134426285262009-01-07T06:15:00.000-08:002009-01-07T06:24:05.423-08:00um telegrama<span style="font-family:verdana;"><em>alice,</em></span><br /><span style="font-family:verdana;">destranque as janelas, <em>meu amor</em>, que essa noite não pedirei licença ao invadir teu quarto com meus cigarros entre os lábios e as mãos calando tua boca. não apavore-se, não tente gritar. deixarei ao alcance da sacada a corda que tenho amarrada na estrela que tu me destes e te levarei ao céu em segundos.</span><br /><span style="font-family:verdana;">beijos curtos, que os longos te entrego quando a única luz que eu vir for a dos teus olhos.</span><br /><span style="font-family:verdana;">sempre, sempre tua em teus amores,</span><br /><span style="font-family:verdana;"><em>stella.</em></span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-46263411381241550122008-12-28T19:01:00.000-08:002008-12-28T19:44:01.978-08:00carta número quatro<span style="font-family:verdana;"><em>alice, minha alice,<br /></em>nos dias em que não tive como vir até tua porta (os meus mais tristes, confesso) te escrevi muitas cartas. em guardanapos de pano e de papel; no verso de fotos nossas; no vapor do box do banheiro.<br />enquanto tomava sorvete de flocos, pensava em ti. enquanto procurava marlboros, pensava em ti. nas aventuras pelo moinho/gruta/etecétera, pensava em ti. no banho com água fria (e sabonete) pensava em ti. antes de dormir, pensava em ti. sonhava contigo. acordava pensando em ti. entre tanto barulho, pensava em ti e sentia a falta imensa da tua voz. entre tantos silêncios, pensava em ti e te precisava pra escutá-los comigo. na festa onde ninguém tinha graça, pensava em ti e te queria pra que enchesse meus olhos.<br />tudo que fiz e que passei nesses dias de ausência tua foi baseado nas lembranças que me nutrem. nos momentos que nós construímos todos os dias, pedrinha sobre pedrinha, cuidadosamente escolhidas a dedo por nós.<br />pensei em ti a cada segundo. me movi por ti. respirei por ti. vivi por ti. morri um pouco, por ti. e renasci com mais que o dobro anterior hoje ao te ver.<br />em anexo (acho bonito falar anexo, sabe) vai um pedaço do meu lugar melhor do mundo, todo pra ti, cheio de um sorriso mal visto e nem percebido por outros olhos (já que não eram os teus). não quero te mandar mais pedaços das minhas coisas, sabe. quero vivê-las contigo e somente contigo. com ninguém mais. sequer comigo mesma.<br />eu te amo, minha alice. eu lutaria contra um exército inteiro por ti. eu lutarei. pouco importa quantas cabeças, braços ou cerejas eu tenha que pisar no caminho. qualquer coisa significa <em>qualquer coisa</em>.<br />daquela que não faz outra se não te amar e te querer,<br /><em>stella</em>.</span><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv130x59efjCzF2f8FerZyTUO3DaSoKOYgwCpb0hbf3UlmTPtVK9COWVjOPkqctK2L8aMMrcMv651l9rpnb-YiYi4L0v8OKoz_l07YhasulYpRFWVAYdZfVJ8QMBy-Z4MHbqPuIdOhm0E/s1600-h/aaa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5285050117356101218" style="WIDTH: 204px; CURSOR: hand; HEIGHT: 154px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv130x59efjCzF2f8FerZyTUO3DaSoKOYgwCpb0hbf3UlmTPtVK9COWVjOPkqctK2L8aMMrcMv651l9rpnb-YiYi4L0v8OKoz_l07YhasulYpRFWVAYdZfVJ8QMBy-Z4MHbqPuIdOhm0E/s320/aaa.jpg" border="0" /></a>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-88839756924465729642008-12-22T19:30:00.000-08:002008-12-22T19:35:35.690-08:00carta número três<span style="font-family:verdana;"><em>minha densa e encantadora alice,</em></span><br /><span style="font-family:verdana;">me desculpe por deixar essa carta na caixa de correio e não por debaixo da porta como das outras vezes, mas me envergonha não ter a dália vermelha como dama-de-companhia, seguindo o exemplo anteriores. eu poderia dizer qualquer coisa, mas em casos como esse - todos que referem-se à ti - opto pela verdade: eu não quis. sequer procurei a mais bonita como das outras vezes, como nos outros anos. não, meu amor. me desculpe.</span><br /><span style="font-family:verdana;">talvez eu já não seja mais tão romântica como quando te conheci - apaixonada sim, disso tenho certeza - mas bem, eu nunca fui dada a grandes demonstrações de afeto, tu bem sabes. as dálias já haviam tornado-se algo sem o mesmo fervor do início - para que de fato, foram feitas. dálias foram feitas para que causassem paixão, afinal de contas. e paixão dilacera.</span><br /><span style="font-family:verdana;">tenho pensado muito sobre essas coisas sabe? não, não a paixão nem o fervor. sobre flores e frutas. as flores são bonitas mas tão sem-nada-para-se-descobrir. não te cansam essas coisas de não haver nada mais para se conhecer, desvendar, interpretar? a mim me cansam. </span><br /><span style="font-family:verdana;">tenho pensado em morangos. um morango nunca vai ter o mesmo gosto da primeira mordida, na segunda. um morango é vermelho-gordo. acho bonitos. assim sabe, delicados e com a cara a tapa. a cara vermelha e rechonchuda que só um morango poderia ter.</span><br /><span style="font-family:verdana;">tenho pensado em figos, também. na verdade bem mais em figos que em morangos. acho os figos explêndidos! são tão pequeninhos e durões e cheios daquele arzinho de superioridade forjado. ainda que bonitos <em>out</em>, o melhor do figo encontra-se <em>in</em>. é que quando sente-se o 'dentro' do figo, que se vê que tem milhões de pedacinhos se espremendo ali dentro, quanta coisa boa tem o figo ali escondido dentro de si! deveria ser ao avesso né? não. porque o melhor de tudo é descobrir.</span><br /><span style="font-family:verdana;">tenho pensado em figos, tenho pensado em morangos, e melhor que isso, tenho pensado na combinação dos dois. é absolutamente incrível os diversos sabores que as duas mesmas frutas podem causar ao paladar. vai ver são inconstantes. vai ver se amam e se completam e se querem e se combinam tanto que até quando mudam, mudam do mesmo jeito, cada um pro seu lado. </span><br /><span style="font-family:verdana;">pode rir,<em> docinho</em>, sei que não tem sentido o que tenho dito. morangos com rostos, figos interessantes, combinações amorosas. nada disso faz sentido. nunca fez.</span><br /><span style="font-family:verdana;">acho cartas nas caixas de correio tão secas, tão frias.</span><br /><span style="font-family:verdana;">não sei como me terminar, então, até logo meu amor.</span><br /><span style="font-family:verdana;">ps¹: sobre eu não ser mais tão romântica, eu menti.</span><br /><span style="font-family:verdana;">ps²: sobre o amor não ter nada a ver com figos e morangos, eu menti.</span><br /><span style="font-family:verdana;">ps³: uma mentirosa nata, obrigada. agora <em>meu amor</em>, delicie-se com os figos e morangos que deixei no fundo da caixa do correio.</span><br /><span style="font-family:verdana;">sempre, sempre tua, <em>stella</em>.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-32152798472677751132008-12-11T16:25:00.000-08:002008-12-11T16:58:57.256-08:00carta número dois<span style="font-family:verdana;"><em>alice -minha doce e neurótica alice</em>,</span><br /><span style="font-family:Verdana;">no pó por sobre os móveis do meu quarto; nas janelas de desenhos teus de prédios nossos; na semente e nas lembranças: escondido, metade coberto, eu encontro -<em>teu amor</em>.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">tão sutil, me ferindo de leve às vezes. noutras em rompantes que me arrancam pedaços. eu te permito. leve todos, leve inteira, leve tudo. eu te deixo. eu te dou. mas por favor, leve e não vá embora. gosto de ter teus olhos reagindo a esses falsos roubos -entregues. leve e fique do meu lado. não me solte a mão que sem ti eu deixo de respirar. não se canse, não fuja.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">ainda que não nos vejamos, continuarei a te invadir pela sacada à noite com meus cigarros de filtro esmagados entre os dedos, deixando bilhetes à cabeceira da tua cama até que sejam suficientes para te mostrar que eu não te disse uma sequer mentira. fosse no 'eu te amo', fosse no 'pra sempre'. continuarei a te dar um sonho diferente do outro todas as noites. até sempre <em>ma belle</em>, até sempre.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">com meu amor mais imenso e minha saudade mais branca, beijos infindos.</span><br /><span style="font-family:Verdana;"><em>tua</em> stella.</span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7551899676845664856.post-40536514399414413092008-12-09T18:56:00.000-08:002008-12-09T20:56:33.124-08:00carta número um<span style="font-family:verdana;color:#999999;"><em>para se ler com um cigarro entre os lábios e uma xícara de café nas mãos.</em></span><br /><span style="font-family:verdana;"><em></em></span><br /><em><span style="font-family:Verdana;"></span></em><br /><span style="font-family:verdana;"><em>alice,</em></span><br /><span style="font-family:Verdana;">essa é a primeira de outras tantas cartas que mandarei. não. talvez essa seja a primeira de três ou quatro. ou ainda, talvez essa seja a única.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">sei que empurrei à ti o fardo de arrancar de mim o '<em>se</em>' e o '<em>talvez</em>' mas não, <em>baby blue</em>, hoje vou mergulhar essa fina folha de papel numa grande bacia cheia até a borda deles.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">há dez meses atrás eu roía as unhas. ah, sim, um segredo que não te contei. pois bem, eu as roía. comia até as pontas dos dedos. comia mesmo (mastigar, engolir). sugava o sangue que vertia da ponta de cada um e me alimentava do limo denso que se incrustava por debaixo delas (as unhas). limo esse que tu bem sabes, vinha do fundo do poço. eu morei lá por muito tempo sabe? dezoito longos anos. talvez eu tenha nascido lá, talvez tenham-me jogado, talvez eu tenha ido por conta própria há tanto tempo que sequer ficou preso nas minhas curtas gavetas de memórias. algumas vezes eu tentei sair, eu juro. às vezes eu sentia-me cansada de esperar, já tinha dúvidas se tu virias mesmo, se não eram ilusões. eu, que odeio ilusões e vivi delas. ou morri delas, sabe-se lá. o fato é que o corpo estava preso à vida, e a alma, morta.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">há dez meses atrás eu gritava. eu gritava, <em>sweety</em>, mas eram berros mudos. quisera eu não ter tido boca pra que pudesse ter evitado a agonia de querer ensurdecer os ouvidos de alguém (fosse com apelos, fosse com ira) e resultar sempre em fracassos. em contenção. mas não. eu não tive voz por dezoito anos. e por dezoito anos eles não tiveram ouvidos. talvez ainda não tenham, mas daqui alguns parágrafos eu chego lá. -me prometi pôr em ordem os pensamentos dessa vez.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">há dez meses atrás o único cheiro que eu conhecia era o podre que me inundava em dias de chuva e em dias de sol. a chuva trazia até o poço mais sujeira e sequer me recompensava lavando-me a alma. fazia-me sentir mais tonturas que normalmente com o fedor fétido que me entrava pelas narinas, orifícios, poros. e quando vinha o sol, quando eu achava que ao menos a luz ia secar-me os olhos: veja só, <em>a podridão apodrecia</em>. doce redundância que me enojava, jogando-me caída sobre o própio vômito.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">nunca consegui acostumar-me com essas sensações: o cheiro, o sangue, o silêncio, o gosto, o vômito, a carne exposta, os gritos mudos, o desespero. ainda assim, eu continuei esperando. eu tinha <em>fome de ti</em>. eu tinha <em>sede de ti</em>. eu tinha que esperar. eu precisava esperar. eu queria esperar! e esperei.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">então, tu veio. eu nem gritava quando tu chegou. e quando ouvi teus passos, não me apressei em te fazer notar que eu estava ali. porque eu sabia, <em>meu amor</em>, que tu sabia. então tu veio e te debruçou nos tijolos escuros-sujos-pretos do poço e eu te olhei e fazia um calor infernal e tu sequer esboçou repulsa ao me ver ali jogada-fraca-imunda num canto sem quinas. tu te lembras? sim, eu sei que sim, mas por favor permita-me que eu te relembre desse dia da forma como ele ficou entalhado na minha melhor gaveta (eu a fiz, especialmente pra ti: é de papel e madeira e gesso). lá de cima eu te via tão longe e tão perto de mim. era por ti que eu tinha esperado a vida inteira mas tu me parecia tão inalcançável nos teus <em>all stars</em> pretos até as canelas, vestida com os olhos mais brilhantes que eu já pudera ter imaginado, contornados em traços que delineavam perfeitamente o teu rosto. tu me sorriu. eu me perguntava se tu rias de mim ou pra mim e essa dúvida não me prendeu mais que um centésimo de segundo até que eu percebesse que sim, tu sorria <em>pra</em> mim.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">eu abri a boca num intuito burro de te gritar alguma coisa e então lembrei que eu não tinha voz. fechei. formulei incontáveis frases que iam de <em>'por-favor-me-tire-daqui'</em> a <em>'jogue-uma-corda'</em> passando por <em>'eu-te-esperei-a-vida-toda-eu-te-amo-e-se-tu-puder-me-puxar-pra-cima...'</em> mas antes que eu pudesse pensar numa palavra curta que emendasse tudo que eu queria te dizer (porque eu sentia coisas grandes e coisas grandes não cabem em palavras pequenininhas) tu pôs o dedo indicador nos lábios em sinal de silêncio e me disse:</span><br /><span style="font-family:Verdana;"><em>-eu cheguei. diga ao teu coração que eu cheguei, que não se afobe, querida, que eu ficarei.</em></span><br /><span style="font-family:Verdana;">céus! mais que meus pensamentos, mais que minha voz, mais que meus ruídos: tu ouvia o bater do meu órgão mais bem guardado até então! eu o mantive pulsante por todos esses anos, vivo o suficiente pra tua chegada, intacto! eu queria (e queria muito) fazer o que tu me pedia, te obedecer cegamente, mas aquilo, <em>meu grande amor</em>, aquilo eu não podia controlar. meu coração batia, martelava, descompassava, enlouquecia, desesperava. meu corpo inteiro tremia. tentei me por em pé. que eu perdesse todos os dedos escalando as paredes úmidas, não importava, eu faria o que fosse preciso pra ir até ti -<em>agora que tu estava tão perto e tão longe</em>.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">foi aí que tu fez o que eu não pude imaginar nos melhores (ainda que raros pois eu quase nunca dormia) sonhos em que tive com esse dia. tu desceu. dá pra acreditar? tu desceu! eu fiquei parada, perplexa, frágil. te assisti sentar na beirada do poço e se agarrar aos tijolos fracos vindo até mim devagar, dando-me tempo pra arrumar as coisas na cabeça, pra aproveitar o que eu via, pra acreditar.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">o meu corpo não possuía qualquer tipo de líquidos se não o sangue até então, e quando tu pôs os pés no chão, firmes, e ficou me olhando ainda com as estrelas nos olhos e o brilho nos dentes eu me percebi aos prantos, em lágrimas. não tive forças pra me mover, e nem se fez necessário, pois como eu já disse: tu ouvia meus pensamentos. tu me abraçou e me segurou e eu fechei os olhos e consegui te abraçar também. tu me apertava contra o peito e me enlaçava entre os braços. eu guardei à ti todos esses sentimentos que tu me proporcionou. eu fiz questão de não me preparar pra eles ou imaginar como seriam. <em>'coisas grandes em palavras pequenas'</em>, não me caberia explicar tudo que eu sentira.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">quando voltei a abrir os olhos, não havia mais limo. não havia mais tijolos. não havia mais sujeira. meu corpo inteiro tinha sido costurado e nele haviam inúmeras cicatrizes. abri a boca e ouvi minha própria voz. tu estavas segurando as minhas mãos. olhei primeiro pra tua boca pra encontrar teu sorriso, mas ele não estava mais lá. tive medo. então procurei saber nos teus olhos e o reencontrei. os teus olhinhos pequenos e escuros me sorriam brilhantes.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">não me importei em saber como tu me tirou de lá. não fiz perguntas. não consegui falar (nem palavras grandes, nem palavras pequenininhas), mas eu sabia que se quisesse, teria voz porque tu tinha ouvidos.</span><br /><span style="font-family:Verdana;">foi aí que eu apertei tuas mãos e percebi que minhas unhas não seriam roídas mais. nunca antes eu sentira tantas coisas grandes, tantas coisas boas. nunca antes eu fora tão feliz. </span><br /><span style="font-family:Verdana;">eu te disse: <em>'eu não quero nunca mais voltar pra lá.'</em></span><br /><span style="font-family:Verdana;">e o que tu me respondeu bastou pra que em pequenas palavras eu entendesse grandes coisas <em>-ainda acho magnífico isso que tu consegue fazer de expremer sentimentos em letras.</em></span><br /><span style="font-family:Verdana;"><em>-nós não voltaremos lá.</em></span><br /><span style="font-family:Verdana;">tu estava lá o tempo todo! só não me ouvia por ainda não ter me visto pra que tivesses ouvidos, assim como eu não te gritava por ainda não ter te visto para que tivesse voz. nós nos esperamos, nós nos chegamos, nós nos tiramos de lá e costuramos uma à outra.</span><br /><span style="font-family:Verdana;"></span><br /><span style="font-family:Verdana;">espero que tenhas lido com o marlboro entre os dedos finos da mão direita e a xícara de café quase frio na esquerda. de ti, <em>minha doce alice</em>, levarei pra sempre todas as melhores lembranças do presente.</span><br /><span style="font-family:Verdana;"><em>eu te amo. eu sempre te amei.</em></span><br /><span style="font-family:Verdana;">beijos doces, famintos da boca tua.</span><br /><span style="font-family:Verdana;"> <em>stella.</em></span>L.http://www.blogger.com/profile/06504822366774010311noreply@blogger.com0